segunda-feira, 8 de junho de 2009

"Será agora?"





Dia 6 de Junho de 2009. 06-06-2009. Apesar das parecenças com o dia do Diabo, foi ainda pior que o próprio.
Na manhã desse dia, um dia chuvoso, deslocava-me para o trabalho como sempre.
Num momento de distracção, em que julgo ter adormecido, acordei para a situação em que estava. O carro bateu no que julgo ter sido o rail, e rodopiei intensamente, enquanto gritava, tentando repor algum controle sobre a realidade, parando apenas na berma desnivelada.
O meu primeiro pensamento foi: " o que se passa"? Em momento nenhum me recordo de ter perdido o controlo do carro...apenas rodopiar e ver tudo a girar. Parecia um sonho mau, um pesadelo incontrolado, em que só poderia esperar um desfecho bastante negativo. Antes de parar pensei: "é agora que vou morrer?"
O carro parou, sentia-se o cheiro e fumo dos travões abs. Tremia por todos os lados...Não queria acreditar.
Alguns carros paravam á frente. Um senhor veio , abriu a porta do passageiro e ajudou-me a sair. Os meus gritos transformaram-se em choro convulsivo. Todos tentavam acalmar-me, perceber o que se havia passado e consolar-me. Como se consola uma pessoa que trabalhou vários anos para pagar um bem que escolheu com dedicação e do qual apreciava o conforto e comodidade que ele lhe dava como meio de transporte e de usufruto?
Muito do meu suor estava naquele carro, horas, dias, anos de trabalho. E faltavam ainda alguns anos para que ele fosse totalmente meu. Para quem decidiu não ter seguro contra todos os riscos, tal situação afigurava-se insuportável. Cada olhadela para o estado do carro, fazia com que os nervos deixassem sair os lamentos de tal situação em forma de choro gritado.
Os transeuntes entraram em contacto com o meu chefe e o meu pai. A ambos tentei dar a mensagem necessária, para os informar e partilhar alguma dor. Pouca coisa me saía da boca. Na minha mente a Terra havia deixado de rodar. Eu ia apenas trabalhar mais um dia, mais um dia de viagem e de suor, objectivos cumpridos e por cumprir. Apenas viver. Trabalhar também é viver.
A vida podia ter-se esvaído naquele dia, todos dizem que vão-se os anéis e ficam os dedos, mas...aquele anel era um dos meus preferidos, com todos os predicados pedidos: estofos de couro, leitor de 6 cds, cd mp3, ar condicionado, espaço para transporte de pessoas e artigos. Uma mégane á maneira. Estou aqui a escrever, sentado, com a posse de todas as minhas faculdades mentais e físicas, e um novo começo, mas perdi algo querido, um pedaço de metal, é certo, mas que significava bastante.
Na minha cabeça ressoa tudo que poderia ter feito para que tal não tivesse acontecido, as palavras de aviso de mãe e amigos quando me diziam para andar devagar, especialmente na chuva, o amigo José Anjos que perdi em 1997 em acidente de viação.
A todos aconselho: Carpe Diem, com juízo, cuidado na estrada. Elas acontecem mesmo e não é só aos outros.
Cuidem-se.

1 comentário:

  1. "Apesar das parecenças com o dia do Diabo, foi ainda pior que o proprio". Pior? Engraçado ouvir isso de um gajo que após o acidente saiu do carro pelo proprio pézinho.
    Se tanto, diria que foi um dia agri-doce, foi um azar do caraças com um misto de sorte. Porque? Simples... é só olhar para a foto acima, no estado em que o carrito ficou e pouca gente senão ninguem se lembrará que o tipo saiu de dentro do carro, não só vivo mas sem a porra do menor ferimento, não houve sangue, não houve ossos partidos, não houve membros perdidos, funções fisicas e mentais diminuidas, não foram envolvidos terceiros por isso não houve mais nenhum dano a outras viaturas ou a pessoas.
    Visto bem, podia ser sempre pior! Há que agradecer pelo que temos, ou pelo menos pelo que não perdemos tambêm.

    Lembro-me do dia que que tiveste o acidente. O pai, preocupado, a mão em lagrimas, e eu no computador... Qualquer pessoa diria que sou um porco, insensivel... o que vendo bem, não estará muito longe da verdade. Mas defeni bem as minhas prioridades: É ele que está a telefonar por isso está vivo, está bem... o carro que se foda!

    Depois disse para mim mesmo as profeticas palavras: "hmmm... se o carro foi co's porcos ele agora vai chular o 'meu'!"

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